domingo, 4 de março de 2007

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Tradição e Inovação em Educação

Tradução: David Savio
Original em inglês em: http://radicalacademy.com/adlertraditionineducation.htm

Um problema mal colocado leva a falsas ou radicais soluções. É importante, então, corrigir a impressão de que o problema na educação americana hoje está em escolher entre a educação clássica ou a progressista. Ambos os nomes significam indesejáveis extremos que tem exagerado e distorcido alguns saudáveis elementos da política educacional. Classicismo designa o árido e vazio formalismo que dominou a educação no final do último século. Ele enfatizava o estudo dos clássicos por razões históricas ou filosóficas. Estava interessado no passado por causa do passado. Confundia exercícios com disciplina. Contra tal classicismo, a reação que aconteceu foi genuinamente motivada e sadia em princípio. Mas ela foi muito longe, e hoje nós temos um igualmente desafortunado extremo que, em suas múltiplas formas, é chamado de educação progressista. A educação progressiva se tornou tão ridícula quanto a educação clássica era árida. É tão ocupada com o estudo do mundo contemporâneo que esquece que a cultura humana tem raízes tradicionais. Substituiu informação por entendimento, e ciência por sabedoria. Confundiu licenciosidade com liberdade, pois é isso que a liberdade se torna quando não é acompanhada pela disciplina.

Se reconhecermos que a divergência entre estes extremos é falsa, nós podemos evitá-lo procurando o meio-termo, pela formulação de um programa moderado que retorne a tudo que era vital no sistema de educação clássica e que também retenha tudo o que seja educacionalmente saudável no vigoroso pragmatismo do movimento progressista. Essa resolução pode ser alcançada pela combinação dos dois fatores, a tradição e a inovação, na correta proporção e ordem.

William Wheel, Mestre do Trinity College, Cambridge, fez uma distinção entre estudo permanente e progressivo (moderno). Os estudos permanentes, disse, são aqueles que permanecem os mesmos em cada período da cultura humana, porque eles respondem às necessidades permanentes da natureza humana, cuja educação deveria objetivar seu cultivo. Natureza humana, pela qual eu quero significar as possibilidades e necessidades dos homens – é constante no sentido de que o homem, enquanto espécie biológica, tem uma constante e específica natureza. Não estamos aqui preocupados com diferenças individuais porque a educação deveria evocar nossa humanidade, e não desenvolver nossa individualidade.

Os estudos permanentes, então, são aqueles que cultivam a humanidade de cada estudante disciplinando sua razão, aquele poder nele que o distingue de todos os outros animais. Tal disciplina é efetuada pelas artes liberais, as artes da leitura, escrita e cálculo – os três “R” (em inglês: Reading, wRiting e Reckoning). E uma vez que a inteligência não muda de geração em geração, ou ainda de época em época, os estudos permanentes englobam a sabedoria consolidada da cultura européia e assim repousam em seus grandes trabalhos, seus grandes livros, suas obras primas de arte liberal.

Os estudos progressivos, por outro lado, são aqueles que mudam de tempos em tempos, quase que de geração em geração. Tais são todas as ciências naturais e sociais que tem um conteúdo mutável de conhecimento. São apenas cursos que nada mais são do que relatórios disfarçados de eventos correntes.

Os estudos permanentes e progressivos representam os elementos da tradição e inovação no currículo educacional. Ambos são necessários, mas os estudos permanentes devem vir primeiro, tanto porque eles são mais fundamentais educacionalmente, quanto porque eles são uma preparação necessária para um bom trabalho no campo do conhecimento progressivo. A educação clássica não somente ignorou os estudos progressivos como apresentou os permanentes numa forma estéril e degradada. A educação progressista, por sua vez, tem quase que inteiramente excluído os estudos permanentes, ou, quando muito, os colocado erroneamente no final do processo educacional ao invés do começo.

Uma vez que a reforma da educação contemporânea deve ser executada pela cura dos defeitos da educação progressista, estender-me-ei nestes com maior detalhe, na esperança de que ninguém suporá que eu queira retornar para o tipo de classicismo do qual estamos bem livres. Eu chamaria o correto programa educacional “Tradicionalismo”, se esse nome pudesse ser levado a significar a posição moderada que combina ambos, tradição e inovação, da forma correta.

A educação elementar hoje é desprovida de disciplina. Aos alunos não é dada treinamento fundamental nas rotinas da linguagem e matemática; suas memórias e imaginação não são cultivadas. Isto porque eles estão muito ocupados com todas as atividades extracurriculares que, em muitas escolas, tem quase substituído o currículo; ou eles, mesmo em tenra idade, estão concentrados em eventos atuais a fim de se ajustar ao mundo contemporâneo no qual esperam ir em frente superando seus vizinhos.

A educação secundária e superior afastou-se completamente do ideal da educação liberal enquanto cultivo do intelecto pelo recurso à herança da cultura européia, e liberação da mente pelo treino crítico nas artes liberais. Nossos bacharéis – mesmo nossos mestres – de artes estão totalmente não familiarizados com as muitas artes que deram seu nome a essas matérias.

Eles não podem ler, escrever ou falar bem sua própria linguagem, e muito menos alguma outra, e consequentemente não podem pensar bem. Nem possuem as principais idéias do pensamento europeu em todos os campos, porque eles leram poucos dos livros que são as grandes produções das ciências e das artes. São, na melhor das hipóteses, caoticamente informados, e na pior, cheios de preconceitos locais, com o qual tem sido doutrinados por livros escolares, manuais e professores. E da mesma forma que a educação superior tem sido degradada pelo tipo de estudantes que são recebidos dos colégios, também o nível da educação qualificada e profissional tem sido rebaixado por ter que aceitar estudantes que não podem ler e escrever e tem pequena ou nenhuma competência em lidar com idéias.

As razões para esta deplorável situação são muitas: a violenta reação contra uma má educação clássica; o caos curricular produzido pelo sistema eleitoral; a falsa noção de que o professor deveria ser guiado pelos interesses dos alunos ao invés do aluno disciplinado pela ciência e arte do professor; todas as modas e fantasias de uma psicologia educacional superficial, assim como a ênfase exagerada nas diferenças individuais, e o descarte de toda disciplina formal por causa de irrelevante pesquisa em mudança de treinamento; o pragmatismo superficial, que entende utilidade em termos de ajuste biológico e sucesso ao invés de termos de perfeição “of chan” (erro no original; “character” talvez); e por último, mas não menos importante, o fato que nossos professores, eles mesmos, tem sido mal educados e completamente mal direcionados pelos requisitos dos sistemas escolares existentes e sob a liderança de nossos conselhos de professores. Um bom professor deve ser um artista liberal e uma pessoa culta. Como muitos professores hoje tem tido treinamento suficiente nas artes liberais para serem capazes de compreender? Quantos deles tem lido os grande livros da cultura ocidental?

A reforma que é urgentemente requerida tem sido delineada pelo Presidente Hutchins de Chicago em seu Higher Learning in America, e está parcialmente em operação no St. John’s College em Annapolis, Maryland. O currículo desta instituição é digno de estudo. Pode ser obtido escrevendo-se ao reitor.

Que as propostas de Hutchins e o programa da St. John’s tenham sido geralmente atacadas e desaprovadas pelos vastos interesses que dominam a educação americana, tanto administrativamente como através dos professores, por um lado, e geralmente aplaudidas pelos pais e graduados que recordam-se do vazio de seu próprio ensino, pelo outro, é prima facie evidence (suficiente para justificar a evidência) da exatidão da do diagnóstico. Mas o caso não precisa para aqui. As várias objeções devem e podem ser respondidas. A questão deve ser purificada de todas as irrelevâncias e mal-entendidos. Isto pode não ser fácil, porque envolve questões básicas como a relação da filosofia e ciência, e a radical diferença entre o homem e outros animais.

Mas isso pode ser feito de forma que cada cidadão entenderá o que está envolvido. Então o público – e, talvez, mesmo os professores – devem rebelar-se contra o prevalecente culto da ignorância e permissividade nas questões educacionais, ou saber que eles estão escolhendo a alternativa que conduz para longe da democracia e do liberalismo, pois estes somente podem ser mantidos e desenvolvidos pelo apropriado cultivo da natureza humana de ambos, líderes e seguidores, na vida pública.

Max Weismann, um amigo pessoal do Dr. Adler por muitos anos e co-fundador com ele da The Society for the Study of The Great Ideas, fez este comentário a respeito do ensaio acima: “Embora isto tenha sido publicado em Better Schools, junho de 1939, parece ter sido escrito hoje.”

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Este blog pretende traduzir e divulgar textos concernentes ao tema da Educação Liberal e no estudo de seus conceitos-chave, procurando reviver suas qualidades, a fim de mostrar suas potencialidades para a aplicação no contexto atual de ensino. O Filósofo Olavo de Carvalho explica resumidamente a respeito do paradigma da Educação Liberal:

Na idade média, a formação para as profissões liberais começava com a absorção do que se chamava as artes liberais. Eram um conjunto de disciplinas, das quais três tratavam essencialmente da linguagem e do pensamento e quatro tratavam dos números, entendidos num sentido muito mais amplo do que hoje estamos acostumados a designar por este nome, e das proporções. O número seria o sentido geral da forma e da proporção. As quatro disciplinas que lidavam com o número eram a aritmética, a geometria, a música e a astronomia ou astrologia.


Filósofo Olavo de Carvalho em palestra sobre Educação Liberal:

http://www.olavodecarvalho.org/palestras/2001educacaoliberal.htm

Há também uma comunidade voltada para a discussão do assunto e para a tradução de textos em inglês, cujo endereço é:

http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=28257189

Abraços a todos